DIFERENÇA ENTRE REZAR E ORAR- E AS VÃS REPETIÇÕES

 

Diferença entre orar e rezar –  E as "vãs repetições"

ASSIM COMO atestam Michaellis, Aurélio e todos os dicionários da língua portuguesa, os termos orar e rezar são sinônimos.

O dicionário traz como significado para a palavra rezar

    v.t. Proferir, dizer (oração ou súplicas religiosas); fazer preces.
    Referir, conter escrito: isto é o que reza a lei.
    Fig. Resmungar, murmurar.
    Dirigir súplicas (à divindade); orar: rezar aos santos.
    Tratar, falar: é um dos maiores feitos de que reza a história.
    v.i. Fazer oração a Deus ou aos santos.

O dicionário traz como significado para a palavra orar:

    v.i. Fazer oração, rezar.
    Pronunciar um discurso, falar em tom oratório; pregar.
    v.t. Pedir, rogar em oração, em prece.

Aliás, é importante notar que essa duplicidade de termos que expressam uma mesma realidade é característica de nossa língua pátria. Em inglês, por exemplo, o verbo to pray significa exatamente o mesmo: orar ou rezar, tanto faz. Em italiano, usa-se a palavra pregare, que poderia ser traduzida como "suplicar" e que tem o mesmo sentido de orar ou rezar em nosso idioma.

No desenvolvimento do português, – esta língua tão complexa, – surgiram muitos termos sinônimos, como: andar e caminhar; experimentar e experienciar; trabalhar e laborar; alimentar e nutrir; orar e rezar. Por exemplo;  Qual é o certo Vermelho ou encarnado? Um termo vale o outro, com a diferença de que “vermelho” é da língua literária, “encarnado” da língua popular. Igualmente, “oração” é palavra clássica, ao passo que “reza” é da língua caseira. Mas o mesmíssimo significado: A elevação da mente e do coração a Deus, para o adorar, agradecer e pedir-lhe as graças de que necessitamos. De fato, não há absolutamente nenhuma razão para se diferenciar radicalmente os termos orar e rezar.

 Na Santa Missa, por exemplo, o sacerdote tanto usa a expressão "oremos" quanto, – na oração dos fiéis ou na homilia, – pode dizer "rezemos". Infelizmente, porém, de algum tempo para cá, muitos "pastores" andam imaginando que têm autoridade para mudar a língua portuguesa, e por conta própria vem "ensinando" a pessoas simples e despreparadas que existe uma grande diferença entre orar e rezar.

Muitos protestantes destituídos de um mínimo de cultura ou honestidade intelectual, fazem das duas palavras, “oração” e “reza”, um cavalo de batalha. “Nós oramos os católicos rezam: logo, os católicos estão errados”. Os desinformados e/ou desonestos precisam saber que “oração” “orar” (sem necessidade de remontar ao hebraico “Or” (Luz)), são palavras originadas do latim, língua de Roma e, portanto, língua legítima da Igreja Católica: (Oratio , orare). Até a aparição dos primeiros protestantes (1520), foram de exclusividade nossa, na liturgia da Igreja Ocidental. Querer vender-nos o que é nosso é crime de estelionato!



E assim, sem pensar, grande parte dos nossos irmãozinhos afastados assume essa ideia equivocada. Pior: como de costume, considerando-se os únicos entendedores da Bíblia Sagrada, essas pessoas são rápidas em nos acusar por conta deste assunto: criou-se a esdrúxula ideia de que "rezar" seria repetir "vãs palavras", enquanto que "orar" seria, verdadeiramente, falar com Deus. Analisaremos bem a questão, a seguir. Antes, vejamos o que a própria Escritura tem a dizer sobre questões como esta:

“Esses tais demonstram um interesse doentio por controvérsias e contendas acerca das palavras, que resulta em inveja, brigas e atritos constantes...”(1Tm 6, 4)

Como vemos, esse tipo de controvérsia sobre palavras não é nenhuma novidade. Voltando à questão, por que se apegam alguns a essa grande diferença inventada, entre palavras que são, na realidade, sinônimas? O que alegam como já dissemos, é que rezar seria uma vã repetição de palavras decoradas, feita mecanicamente, enquanto que orar seria falar a Deus daquilo que vem do coração, com entrega, com fé e amor. – Para um fiel católico, entretanto, desmontar essa construção maldosa é muito fácil, simplesmente porque é desprovida de qualquer base sólida:

Em primeiro lugar, não é verdade que os católicos só podem se utilizar de orações prontas para falar a Deus. Todo católico pode e deve elevar suas próprias orações espontâneas ao Criador, usando as palavras que lhe vêm ao coração, para pedir, louvar, dar graças. O uso das fórmulas prontas sempre serviu (e serve) como uma espécie de guia, para orientar sobre a maneira correta de falar a Deus, conforme instruiu o próprio Senhor Jesus Cristo: quando um dos discípulos lhe perguntou como deveriam rezar ou orar (Lc 11,1-4. Mt 6,9-14), Ele não respondeu: "falem como quiserem, digam as palavras que lhes vierem ao coração". O que o Senhor fez foi ensinar a oração do Pai Nosso, dizendo: "Quando orardes, dizei assim...". –  O Senhor mesmo, pessoalmente, ensinou uma fórmula pronta, para que compreendêssemos o que era mais importante pedir a Deus, e em que ordem e de que maneira devemos fazê-lo.

Por meio desse modelo, Jesus nos ensinou como devem ser as nossas orações e como elas se tornam aceitáveis a Deus, nosso Pai do Céu. Vemos que pode ser muito útil usar fórmulas prontas como orientadoras para os nossos momentos de oração. Foi assim que o Cristo nos ensinou, e isso não quer dizer, de modo algum, que nossa oração será feita mecanicamente, sem entrega, sem devoção, sem amor.

O "X" da questão.

Como sempre, quando discutimos com "evangélicos", não podemos encerrar a questão sem entrar no argumento bíblico. "Está na Bíblia", "não está na Bíblia", "onde é que está na Bíblia...", é o que invariavelmente ouviremos como resposta. E ao tentar esclarecer essa questão específica, há um argumento que virá inevitavelmente, em algum ponto da conversa: a citação do texto do Evangelho de Mateus:

“Orando, não useis de vãs repetições, como os gentios, que pensam que por muito falarem serão ouvidos.” (Mt 6,7)

A tradução acima é a do protestante português J. F. de Almeida (das versões 'corrigida e revisada' ou 'revisada imprensa bíblica'), as mais usadas pelos "evangélicos". Já a versão da NVI (Nova Versão Internacional), que é um trabalho de tradução conjunto entre teólogos católicos e protestantes, traz uma diferença vital:

"Quando orarem, não fiquem sempre repetindo a mesma coisa, como fazem os pagãos. Eles pensam que por muito falarem serão ouvidos." (Mt 6,7)

Há uma diferença sutil, porém fundamental. Não fala em "vãs repetições". A NVI recebe críticas, tanto de católicos quanto de protestantes radicais, justamente pelos esforços conjuntos na tradução: ambos os lados consideram inadmissível a participação de apóstatas na tradução do texto sagrado. A lógica mais elementar, no entanto, grita o contrário: uma tradução conjunta, necessariamente descomprometida de interpretações teológicas particulares, terá que ser necessariamente próxima do que o texto original realmente diz, pois o único modo de não ferir posições contrárias é ater-se ao que está dito, sem pender nem para a direita e nem para a esquerda. Já a tradução da Sociedade Bíblica Britânica diz assim:

"Quando orardes, não useis de repetições desnecessárias como os gentios; porque pensam que pelo seu muito falar serão ouvidos." (Mt 6,7)

Algumas palavrinhas (muitas vezes uma só palavrinha) fazem toda a diferença. E quando examinamos a mesma passagem numa Bíblia aprovada pela Igreja Católica (como a da editora Ave Maria), notamos a divergência:

“Nas vossas orações, não multipliqueis as palavras como fazem os pagãos, que julgam que serão ouvidos à força de palavras.” (Mt 6,7)

 A tradução também católica da editora Vozes é a seguinte:

"...Nas orações, não faleis muitas palavras, como os pagãos. Eles pensam que serão ouvidos por causa das muitas palavras." (Mt 6,7)

Observe que existe, no mínimo, uma controvérsia em se usar a expressão "vãs repetições", escolhido por Almeida e da qual os "evangélicos" tanto gostam, na tradução da passagem em questão. Finalizemos então esse assunto da melhor maneira possível, – analisando o texto bíblico original, em grego:

“Προσευχόμενοι δὲ μὴ βατταλογήσητε ὥσπερ οἱ ἐθνικοί, δοκοῦσιν γὰρ ὅτι ἐν τῇ πολυλογίᾳαὐτῶν εἰσακουσθήσονται”. (Transliteração:'Proseukomenoi de me battaloyesete osper oi etnikoi, dokusin gar oti en te polylogiaauton eisakustesontai').

O vocábulo-chave aí é πολυλογίᾳ, que se pronuncia polylogia, e se traduz da seguinte maneira:poly quer dizer muito, bastante, em grande número;logia quer dizer palavra, discurso, descrição, linguagem, estudo, teoria. No contexto em questão, o termo está mais diretamente relacionado ao sentido de palavra. O termo polylogia, portanto, quer dizer algo como tagarelice, falatório, verborragia, prolixidade. Como vemos, na fiel tradução desta passagem dificilmente caberiam as palavras “vãs” e “repetições”, tão alardeadas.

Outro ponto importantíssimo é compreender que Jesus diz que não devemos falar muito, multiplicando as palavras (atenção) do mesmo modo como fazem os pagãos. É claro que os pagãos não recitavam os salmos, nem as orações dos judeus e muito menos o Pai Nosso, que o Senhor ensinou aos seus discípulos. Se o fizessem, seriam recriminados? Certamente que não.

Ademais, condenar "vãs repetições", não significa dizer que todas as repetições em orações são vãs (se existem as vãs- inúteis e falsas repetições é porque existem as úteis, verdadeiras e produtivas repetições) nem significa dizer que é errado repetir a mesma oração dizendo as mesmas palavras, pois Jesus mesmo rezava repetindo as mesmas palavras: "E, afastando-se de novo, orava dizendo novamente a mesma coisa..." (Mc 14, 39) ou como nos diz Mt 26, 44: Jesus repetiu a mesma oração três vezes  dizendo as mesmas palavras. O próprio Jesus usou úteis repetições na sua oração de exorcismo: Porque lhe dizia sai deste homem espírito imundo cf. Mc 5, 7-8 .

Se esta cena se passasse no Brasil, hoje, certos "pastores" diriam que Jesus estava cometendo um erro, "rezando" em vez de "orar", usando de "vãs repetições"...

Mesmo nas orações espontâneas, relatadas pelo NT, encontramos rezas aprendidas de cor, recitadas (rezadas) por Jesus Cristo e toda congregação como as palavras de Jesus na cruz: meu Deus meu Deus por que me abandonaste? Que é certamente citação do Sl 22(21), 1-2. Cf. Mt 27, 46. O mesmo se aplica a algumas das últimas palavras do Senhor: Pai em tuas mãos entrego o meu espírito que cita o Sl 31(30), 5. Cf. Lc 23, 46. Isto é uma prova que mesmo rezando, fazendo uma oração formulada, é possível fazê-la espontaneamente e de coração, fazer daquelas palavras já formuladas, seus próprios sentimentos.

 Vemos também que Jesus, seus apóstolos e discípulos participaram de preces coletivas, rezaram “em comunidade”, juntos, ao mesmo tempo, usando exatamente as mesmas palavras, faziam as preces da manhã, do meio dia e da tarde cf. Lc 24, 53; Atos 3, 1; Mc 14, 26;  Atos 1, 24-25; 4, 24-31. Em Ef 5, 19; Cl 3, 16 S. Paulo exorta os cristãos a cantarem e recitarem juntos Salmos, hinos e cânticos espirituais. Ora, se os fiéis são solicitados a cantar salmos... Juntos, será que não podem recitar as mesmas orações juntos com as mesmas palavras? Afinal o que são os salmos, cânticos e hinos senão orações formuladas cantadas? Por conseguinte, segundo os protestantes, rezas cantadas! Se Deus atende e se agrada com orações formuladas cantadas porque não atenderá e não se agradará com orações formuladas recitadas (rezadas)? Portanto, se não se encontra a palavra reza na bíblia encontra-se a prática da mesma.·.

 Muitos protestantes memorizam a Bíblia, mas poucos entendem o seu contexto e seus significados realmente profundos. Além disso, procuram valorizar sempre as diferenças, por menores que sejam,  aumentando cada vez mais o abismo da separação entre cristãos. Ainda pior, acentuando as diferenças (mesmo as que não existem), seja no culto ou nas palavras, se identificam como “crentes” ou “evangélicos” e se distanciam de católicos e ortodoxos. É uma tática astuciosamente adotada para crescer e prosperar: levar os ingênuos a acreditarem que somente eles são os detentores da salvação e da Verdade divina: somente eles é que conheceriam os sentidos das palavras, quando a realidade é exatamente o contrário.

 

E além de tudo, sejamos francos: quantos falsos profetas, – que já conhecemos tão bem, – são verdadeiros mestres da oratória, gênios dos belos discursos? Dizem que "oram", berram elaboradas palavras diante da assembleia deslumbrada, mas suas vidas estão repletas de podridão, luxúria, ostentação, idolatria ao dinheiro e às riquezas. Já Madre Teresa de Calcutá era tímida no falar, assim como Irmã Dulce dos Pobres e Frei Damião, apenas para citar alguns exemplos bem conhecidos: todos estes diziam "rezar", e suas vidas foram exemplos de caridade cristã. Quem se atreveria a dizer que essas pessoas não rezavam com o coração, com fé e grande amor a Deus?

Para finalizar, observemos o Salmo 135/6, que reproduzimos abaixo (fizemos questão de usar a tradução protestante de J. F. de Almeida):

"Louvai ao SENHOR, porque ele é bom;
Porque a sua benignidade dura para sempre.

Louvai ao Deus dos deuses;
Porque a sua benignidade dura para sempre.

Aquele que fez os grandes luminares;
Porque a sua benignidade dura para sempre..."

E assim prossegue a oração do salmista, até o final, repetindo sempre a mesma fórmula, de novo e de novo. Assim também é que cai por terra, definitivamente, o argumento de que os católicos usam de vãs repetições em suas orações, junto com a suposta importante diferença existente entre os termos "orar" e "rezar".

Tanto "rezar" quanto "orar" englobam todos os gêneros de súplicas a Deus, desde aqueles de petição e agradecimento até as orações de louvor e glorificação ao Criador. Não se trata de nenhum segredo escondido: o leitor pode comprovar esta simples realidade através de breve pesquisa. Tudo que precisamos fazer é deixar de dar ouvidos aqueles que se consideram donos da verdade, e buscar a Vontade de Deus com amor soberano, pureza de alma, fé desapegada e absoluta sinceridade. Leia e divulgue: www. ofielcatolico.com. br

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